Nova orientação do BC não impede corte adicional de 0,50 p.p., mas pode aumentar chance de desaceleração no ciclo


Nova orientação do BC não impede corte adicional de 0,50 p.p., mas pode aumentar chance de desaceleração no ciclo

Economistas disseram nesta quinta-feira que continuam acreditando na possibilidade de o Banco Central cortar os juros em meio ponto percentual para além da reunião de política monetária de maio, mas alguns analistas avaliam que o novo “guidance” aumenta a probabilidade de o colegiado desacelerar o ritmo da flexibilização monetária à frente.

O Comitê de Política Monetária do BC anunciou na quarta-feira uma nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, e encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio. Desde agosto, a orientação era de novos cortes equivalentes nas próximas reuniões, no plural.

“Num geral, faz sentido aumentar os seus graus de liberdade, dada a fase do ciclo de afrouxamento e a maior incerteza… Apesar da orientação futura, não esperamos uma alteração na flexibilização total ou um abrandamento do ritmo”, disseram David Beker, chefe de economia e estratégia para Brasil, e Natacha Perez, economista para Brasil, do Bank of America, que estimam taxa Selic terminal de 9,50%.

“Cabe destacar que o Comitê sinalizou que o cenário-base não se alterou substancialmente, dando a entender que o atual plano de voo ainda pode ser executado”, argumentou a equipe macroeconômica da Genial Investimentos, que manteve projeções de cortes da Selic de 0,50 ponto percentual nas duas próximas reuniões e um corte final de 0,25 ponto em julho, a 9,5%.

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, foi na mesma linha: “o Copom afirmou que seu cenário não mudou e manteve sua projeção de inflação para 2025. Isso sugere, pelo menos no momento, uma taxa terminal inalterada”, disse ele, que tem como projeção juros a 9,25% ao final de 2024.

O Banco Central informou em seu comunicado que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação segue em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025.

No início do mês, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, já havia dito em evento que mudanças no guidance “não necessariamente significam uma correlação com a taxa de juros terminal”, e que o Copom estava ganhando tempo para “ver como as coisas vão se desdobrar”.

Parte dos economistas aponta que o balanço de riscos está se deslocando no sentido de uma desaceleração do ritmo de cortes ser mais provável do que uma intensificação, o que poderia eventualmente levar a aumentos nas projeções das grandes instituições financeiras para a Selic –embora esse ainda não seja o caso.

“A nosso ver, a mudança na orientação aumentou a dependência de dados tanto das futuras decisões de cortes de taxas do Copom como da sua orientação”, disseram a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, e sua equipe em relatório.

“Acreditamos que há espaço para flexibilização no mesmo ritmo para as próximas reuniões, mas reconhecemos que a decisão de hoje (quarta-feira) aumentou o viés no sentido de uma redução no ritmo dos cortes em 2024.”

Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a mudança aumentou a probabilidade de ajustes do ritmo. “Por mais que no comunicado eles tenham feito um balanço de riscos simétrico, a gente, na verdade, percebe que hoje há mais motivos para diminuir o ritmo do que para acelerar o ritmo”, disse.

Entre esses motivos, ele citou as expectativas de inflação ainda acima da meta para os próximos anos e a dificuldade enfrentada pelo Federal Reserve, banco central dos EUA, na “última milha” do combate à inflação.

“Falta ainda uma confiança adicional de que a inflação está de fato vindo para a meta de forma sustentável para eles (Fed) poderem se animar a começar o ciclo (de afrouxamento monetário)… O que acontecer nos Estados Unidos vai ser bastante importante para essa calibragem” no Brasil, disse Igliori.

O Federal Reserve deixou na quarta-feira sua taxa básica inalterada, e projeções atualizadas do banco central norte-americano mostraram que 10 das 19 autoridades do Fed ainda veem a taxa básica em queda de pelo menos 0,75 ponto percentual até o final deste ano.

O chair do Fed, Jerome Powell, falando após a reunião, disse que o momento dessas reduções ainda depende de as autoridades se tornarem mais seguras de que a inflação pode continuar a cair em direção à meta de 2% do Fed em uma economia que continua a superar as expectativas.

MERCADOS COMEDIDOS

Na esteira da decisão do Copom, os ativos brasileiros tinham desempenho misto e um pouco instável nesta quinta, com analistas de mercado ressaltando que outros fatores também estavam ditando o pregão, como a decisão do Fed, dados econômicos norte-americanos e balanços corporativos.

Por volta das 12h30 (de Brasília), o dólar à vista subia 0,08%, a 4,9780 reais na venda, abandonando perdas iniciais em linha com a força da moeda norte-americana no exterior e com a recuperação dos rendimentos dos Treasuries.

Apesar da alta do dólar no dia, a maior cautela do Copom sinaliza baixa possibilidade de a taxa Selic terminal ficar abaixo do atualmente projetado pelos mercados –algo que seria prejudicial para o real, segundo especialistas.

As taxas dos principais contratos de juros futuros subiam de 3 a 5 pontos base na curva de janeiro de 2025 a janeiro de 2029, em sintonia com os rendimentos norte-americanos e com o tom mais duro do Copom.

Na bolsa paulista, o tom mais conservador do BC é um componente negativo, mas o gestor Tiago Cunha, da Ace Capital, ressaltou que, para as ações, o tamanho do orçamento do corte é mais relevante do que a sinalização do próximo passo apenas.

Neste momento, Cunha vê um efeito maior da temporada de resultados e do cenário macro externo nas ações na B3. Por volta de 12h40, o Ibovespa tinha queda de 0,6%, a 128.355,82 pontos.

(Por Luana Maria Benedito; reportagem adicional de Paula Arend Laier)

Fonte: Reuters

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