Crime organizado se infiltra em qualquer estrutura, diz secretário de Segurança do RJ


Crime organizado se infiltra em qualquer estrutura, diz secretário de Segurança do RJ

A prisão de um ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro e de dois políticos tradicionais do Estado acusados de serem os mentores do assassinato da vereadora Marielle Franco expõe um realidade brasileira que é a presença do crime organizado infiltrado nas instituições públicas, afirmou o secretário de Segurança Pública fluminense, Victor Santos, em entrevista à Reuters.

O delegado da Polícia Federal, que assumiu no ano passado a Secretária de Segurança Pública do Estado, comentou declaração do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que disse em entrevista coletiva que as prisões do ex-chefe de polícia Rivaldo Barbosa e dos irmãos Chiquinho Brazão, que é deputado federal, e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, ofereceram uma visão de como o crime organizado se infiltrou nos órgãos públicos do Rio de Janeiro.

“Todo serviço de segurança e a polícia estão sempre querendo melhorar o tempo todo, mas corrupção não é algo exclusivo do Rio, não é um problema regional”, disse o secretário na segunda-feira.

“O crime organizado se infiltra em qualquer estrutura, Executivo, Legislativo e Judiciário“, acrescentou.

Os irmãos Brazão foram apontados pela Polícia Federal como mandantes do assassinato a tiros de Marielle e seu motorista Anderson Gomes quando deixavam um evento político na noite de 14 de março de 2018. Barbosa foi acusado pela PF de buscar atrapalhar as investigações e também de ter participado do planejamento do crime.

Além deles, o delegado da Polícia Civil Giniton Lages e um comissário da corporação foram alvos de mandados de busca e apreensão no domingo no âmbito da mesma investigação.

Segundo a PF, o crime teria sido motivado por divergências políticas entre a família Brazão e Marielle, e também pela atuação da vereadora contra a grilagem de terras em áreas controladas por milícias na zona oeste do Rio de Janeiro.

“A operação mostrou toda problemática que a gente conhece em relação ao crime organizado no aparelho do Estado. Isso é uma preocupação muito grande“, disse o secretário.

As investigações da PF apontaram que Rivaldo foi contratado pelos irmãos Brazão para orientar sobre a forma como o crime deveria ser executado. O delegado ocupava à época a chefia da Divisão de Homicídios, e assumiu o cargo de chefe da polícia fluminense na véspera da morte de Marielle.

As investigações da PF contaram com um acordo de colaboração firmado pelo executor do crime, o ex-policial militar Ronnie Lessa. Um outro ex-PM, Élcio Queiroz, comparsa de Lessa no crime, também já tinha firmado um acordo de colaboração.

“A investigação é muito robusta, feita com muita técnica. É uma investigação com fundamento para apontar responsabilidade das pessoas que eram investigadas. Esperamos que seja avaliado pela Justiça e as pessoas sejam responsabilizadas“, afirmou o secretário fluminense.

O secretário de Segurança considerou o caso Marielle um aprendizado para as força de segurança do Rio, apontando que mostra a necessidade de investimentos cada vez maiores em capacitação e qualificação dos agentes.

“Lições aprendidas. Erro se tiver tem que ser erro novo e não velho. Isso é um aprendizado e estamos sempre aprimorando… esse trabalho de capacitação e valorização vai fazer com que a gente tenha mais e melhores polícias“, disse.

Na segunda-feira, a corregedoria da Polícia Civil do Rio começou a investigar as condutas de Barbosa e Lages, alvo de mandado de busca e apreensão durante a operação da Polícia Federal no domingo. Um inquérito foi aberto e ambos podem ser expulsos da corporação.

Apesar da participação dos agentes da polícia no planejamento e na execução do crime, Santos disse acreditar que eles representam uma minoria dentro da corporação e que a instituição ainda tem a confiança da sociedade fluminense.

“O quadro da polícia é muito bom. Eventual desvio de conduta a gente encara como minoria, porque a maioria é de bons policiais”, disse. “Não podemos deixar que a posição de um venha a macular a história de 200 anos das instituições“, acrescentou, ao afirmar que o trabalho a corporação é “separar joio do trigo“ e “valorizar o bom policial”.

Fonte: Reuters

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