Clientes da FTX ainda têm problemas com colapso da plataforma de criptomoedas


Clientes da FTX ainda têm problemas com colapso da plataforma de criptomoedas

Para Lee Rees, de 43 anos, a FTX era uma das poucas bolsas de moedas digitais em que o operador de criptomoedas baseado em Londres ganhava a vida, lucrando com as diferenças de preços dos ativos. Quando a FTX entrou em colapso no ano passado, levou consigo 100 mil dólares de Rees, cerca de metade de sua renda anual.

“Isso afetou minha vida”, disse ele. “É como se seu chefe não lhe pagasse. Você não consegue viver, não é mesmo?”

Rees é um dos mais de 1 milhão de clientes que, segundo estimativas, podem ter sofrido perdas depois que a FTX, uma das maiores bolsas de criptomoedas da época, entrou em colapso repentino e pediu falência em novembro, com a descoberta de que os fundos dos clientes haviam desaparecido.

O fundador e ex-presidente-executivo da empresa, Sam Bankman-Fried, é acusado de desviar 10 bilhões de dólares de clientes para sustentar seu fundo de hedge Alameda Research, comprar propriedades de luxo e financiar doações políticas. O julgamento dele começou em Nova York nesta semana.

Na quarta-feira, o advogado de Bankman-Fried disse ao tribunal que seu cliente havia negligenciado o gerenciamento de riscos, mas não roubou o dinheiro dos clientes. Bankman-Fried se declarou inocente das acusações.

Os promotores estão convocando alguns clientes da FTX para testemunhar que lhes foi dito que seus ativos estavam seguros e para compartilhar como o colapso da FTX os afetou.

Os clientes com os quais a Reuters conversou disseram que criaram grupos de apoio para ajudar uns aos outros a navegar pelo complexo processo de falência da empresa, enquanto outros disseram que foram alvo de golpistas que prometeram recuperar seu dinheiro.

E alguns – sem se intimidar – estão de volta à montanha-russa das criptomoedas.

“Como o mercado de criptomoedas se recuperou, muitos clientes da FTX estão concluindo que podem vender suas reivindicações, comprar criptomoedas novamente e se sair muito melhor do que deixar os ativos se desvalorizarem”, disse Matthew Sedigh, presidente-executivo da Xclaim, uma bolsa especializada na área.

DE VOLTA AO MERCADO

Atualmente, cerca de 30 bilhões a 35 bilhões de dólares em criptomoedas estão travados em falências de empresas, com cerca de 15 milhões de pessoas afetadas, de acordo com a Xclaim. Havia cerca de 16 bilhões de dólares em criptomoedas presas na FTX quando a plataforma entrou em colapso, de acordo com a Xclaim.

John Ray, um especialista na área, descreveu falhas na manutenção de registros financeiros na FTX e fundos de clientes sendo usados para comprar casas e outros itens pessoais para a equipe da FTX.

Rees fez o pedido para recuperar seus recursos por meio de um site criado pela Kroll, um processo que ele descreveu como “pesadelo”.

“Todos esses termos eram muito complicados. Você precisa de um advogado para entendê-los…. Não sabemos se vamos receber nosso dinheiro de volta ou não.”

A FTX recuperou 7,3 bilhões de dólares dos fundos perdidos até abril, mas muitas pessoas disseram que ainda não haviam recebido nenhum dinheiro de volta.

“Acho que existe o risco de que muitas vítimas se tornem vítimas novamente por causa desse procedimento”, disse Maxime, um belga de 32 anos, que também achou difícil o processo de reivindicação de seus ativos.

Maxime, que pediu à Reuters para não revelar seu nome completo, disse que tinha uma soma de “seis dígitos” na FTX – lucro da negociação de criptomoedas desde 2017. “Essa quantia era acima de tudo a esperança de uma vida melhor”, acrescentou.

Na quarta-feira, os promotores chamaram Marc Antoine-Julliard, um cliente da FTX que tinha cerca de 100 mil dólares em ativos. Ele disse que acreditava que Bankman-Fried “queria fazer o bem”. Quando lhe perguntaram como se sentiu quando sua solicitação de retirada de fundos da FTX não foi processada poucos dias antes de a FTX declarar falência, ele respondeu: “Extremamente ansioso”.

Buscando respostas, os credores da a FTX criaram grupos de apoio. Maxime se juntou a vários, incluindo um no Telegram com 3 mil membros. “Discutimos ativos da FTX, procedimentos…é um grande apoio.”

Sunil Kavuri, um financista que afirma que perdeu “sete dígitos” com a FTX, decidiu começar a publicar informações sobre o colapso da companhia na rede social X, para combater desinformação.

“Eu tinha que fazer alguma coisa”, afirmou. Os credores com quem ele conversa estão “realmente nervosos” e “feridos”, disse ele. “Isso é muito triste.”

O processo de falência da FTX deve se estender até 2024 e alguns credores, cansados de esperar, venderam suas reivindicações. A Xclaim lista mais de 2 mil reivindicações disponíveis para venda, avaliadas em cerca de 610 milhões de dólares com base nos preços de novembro passado, disse Sedigh.

Fonte: Reuters

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