Bitcoin lidera ranking de investimentos do mês e tem a maior alta do ano; bolsa e dólar apresentam desempenho inferior.

Após um ano desafiador em 2022, o bitcoin parece determinado a manter a liderança no ranking dos melhores investimentos em 2023. A criptomoeda mais uma vez ocupa o primeiro lugar como o ativo mais rentável em março, com um aumento de cerca de 65% em relação ao real desde o início do ano, bem à frente do segundo colocado.

Anúncios

bitcoin
Bitcoin (Foto: Reprodução/Internet)

No entanto, o pódio deste mês também marca o retorno de ativos que haviam registrado perdas há pouco tempo. O ouro conquistou o segundo lugar, recuperando seu valor em meio ao enfraquecimento global do dólar, e os títulos públicos prefixados passaram a figurar entre as melhores aplicações do ano.

Já a lanterna foi ocupada pelo Ibovespa, dólar e IFIX, o índice de fundos imobiliários. Esses foram os únicos ativos do ranking que apresentaram retorno negativo em março. Confira a seguir a lista completa com a performance dos principais investimentos no mês:

Investimento Rentabilidade no mês Rentabilidade no ano
Bitcoin 19,37% 65,52%
Ouro 4,61% 5,30%
Tesouro Prefixado 2029 4,49% 4,31%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2033 3,59% 3,02%
Tesouro Prefixado 2026 2,93% 5,31%
Índice de Debêntures Anbima – IPCA (IDA – IPCA)* 2,42% -2,59%
Tesouro IPCA+ 2035 2,13% 1,76%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2040 2,06% 2,95%
Tesouro IPCA+ 2029 2,01%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2032 1,98% 3,82%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 1,84% 2,13%
Índice de Debêntures Anbima Geral (IDA – Geral)* 1,35% -0,94%
Tesouro Selic 2026 1,14%
CDI* 1,12% 3,15%
Tesouro Selic 2029 1,09%
Tesouro IPCA+ 2045 1,03% -1,05%
Poupança antiga** 0,65% 2,01%
Poupança nova** 0,65% 2,01%
IFIX -1,69% -3,70%
Dólar PTAX -2,44% -2,62%
Ibovespa -2,91% -7,16%
Dólar à vista -2,99% -4,00%

A quebra de bancos e empresas contiveram o ritmo de aperto monetário

Embora a alta dos juros no Brasil e no mundo tenha prejudicado os ativos de risco, incluindo os digitais, e favorecido a renda fixa pós-fixada, os bancos centrais receberam um sinal claro de que não poderiam apertar a política monetária excessivamente, pois o risco de uma onda de quebras de empresas e bancos poderia agravar ainda mais o cenário econômico.

Os Estados Unidos já enfrentaram a falência de bancos e, no Brasil, desde o início do ano, várias empresas, tanto abertas quanto fechadas, têm tido dificuldades para honrar suas dívidas e algumas até solicitaram recuperação judicial.

No Brasil, o caso da Americanas foi o estopim para a desconfiança dos investidores em relação às empresas do setor, que já vinham sofrendo com os juros altos. Embora haja indícios de fraude no caso da varejista, a sua recuperação judicial deixou os investidores apreensivos em relação a outras empresas do setor.

Além disso, os grandes bancos sofreram grandes perdas financeiras com a Americanas e, por isso, se tornaram mais cautelosos na concessão de crédito, assim como outros investidores do mercado de dívida corporativa. Esse cenário é particularmente desfavorável para empresas altamente endividadas, que já estão enfrentando dificuldades para cumprir suas obrigações financeiras.

Tanto nos EUA quanto na Europa, o aperto monetário resultou na falência de algumas instituições financeiras de menor porte, que estavam mais expostas a clientes de alto risco ou que já apresentavam problemas financeiros prévios, como foi o caso do Credit Suisse.

bitcoin-imagem
Bitcoin (Foto: Reprodução/Internet)

Apesar disso, nem o Federal Reserve, nem o Banco Central Europeu e nem o BC brasileiro relaxaram diante da inflação ainda preocupante. Eles também não indicaram que os juros devem parar de subir ou começar a cair em breve, dependendo do caso.

No entanto, os banqueiros centrais perceberam que talvez não seja possível apertar demais a política monetária, a fim de evitar uma recessão severa na economia. Na verdade, em alguns casos, os governos tiveram que fornecer algum tipo de resgate aos bancos, mesmo que fosse por meio de linhas de crédito favoráveis.

De qualquer forma, as falências de empresas observadas até o momento também podem, por meio do caminho mais difícil, contribuir para o arrefecimento da economia e a desaceleração da inflação.

Essa restrição ao furor hawkish dos bancos centrais resultou na desaceleração dos juros futuros e trouxe alívio para o dólar em escala global. Isso abriu espaço para a valorização de outras moedas fortes, incluindo o real em relação ao dólar americano.

Por exemplo, o dólar à vista encerrou março cotado a R$ 5,07, acumulando uma queda de 4,00% no ano.

As criptomoedas também se beneficiaram desse cenário, além da “desconfiança renovada” dos investidores em relação aos bancos tradicionais, diante da crise bancária nos EUA e na Europa. Isso impulsionou ainda mais o movimento de recuperação desses ativos, já observado desde o início do ano.

A ideia de que o aperto monetário nos EUA não poderá ser tão forte quanto se imaginava e o alívio no dólar também favoreceram o ouro, um ativo que se destaca em momentos de crise, desde que a perspectiva não seja de aumento dos juros nos EUA, o que normalmente aumenta a atratividade dos títulos públicos em relação ao metal, que não paga juros.

No entanto, as ações brasileiras não tiveram a mesma sorte. Embora o Ibovespa tenha apresentado recuperação na reta final do mês, retornando ao patamar dos 100 mil pontos (fechando em 101.882 pontos), essa retomada não foi suficiente para apagar os efeitos das tensões anteriores e das marcas deixadas pela crise corporativa dos últimos meses, bem como pelos juros ainda elevados na B3.

Outro mercado que ainda sofre as consequências da crise de crédito do primeiro trimestre é o de debêntures. Em março, os títulos de dívida das empresas conseguiram uma boa recuperação com o alívio nos juros futuros, mas ainda acumulam perdas no ano, principalmente devido ao escândalo da Americanas e às dificuldades enfrentadas pela Light.

No entanto, o setor que parece ainda estar enfrentando um período difícil é o de fundos imobiliários. Além dos juros elevados e da inadimplência das empresas problemáticas que são locatárias de fundos importantes da bolsa, como a Tok&Stok e a Marisa, em março foram relatados casos de calote em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) que compõem as carteiras de FIIs com grande número de cotistas.

Alguns desses fundos possuem exposição significativa a esses papéis e estão sofrendo grandes perdas no mercado de ações. A inadimplência dos CRIs também está relacionada, em certa medida, à crise financeira enfrentada pelas empresas brasileiras devido aos juros altos e à escassez de crédito. Isso mostra que os reflexos desse cenário ainda podem ser sentidos no mercado.

Espera...