Após cair mais de 1%, dólar fecha em alta de 0,44% com fala de Lula sobre meta fiscal
Após chegar a cair mais de 1% pela manhã, o dólar à vista virou para o positivo à tarde e fechou a sexta-feira com ganhos firmes ante o real, na esteira de comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a meta de resultado primário zero em 2024 dificilmente será alcançada pelo governo.
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O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,0132 reais na venda, em alta de 0,44%. Na semana, a moeda ainda acumulou baixa de 0,38%.
Na B3, às 17:35 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,52%, a 5,0175 reais.
Pela manhã, a divulgação de números positivos da economia norte-americana estimulou o apetite dos investidores por ativos de maior risco.
O departamento do Comércio informou que o núcleo do índice de preços PCE, o favorito do Federal Reserve, subiu 0,3% em setembro, em linha com o esperado, depois de aumentar 0,1% no mês anterior. O núcleo do PCE aumentou 3,7% em uma base anual em setembro, no menor ganho em mais de dois anos, após um aumento de 3,8% em agosto.
Os dados, que sugerem uma inflação mais acomodada nos EUA, tiraram a força do dólar ao redor do mundo. No Brasil, isso abriu espaço para que a moeda norte-americana à vista registrasse a cotação mínima da sessão, de 4,9315 reais (-1,20%), às 10h25.
Para o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, um dólar na faixa de 4,95 reais já era um “presente” para os players interessados em comprar a moeda norte-americana. Durante a tarde, porém, o cenário mudou.
Em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, Lula disse que entende a “disposição” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas fez uma série de ponderações sobre a meta fiscal de 2024.
“Nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque não quero fazer cortes em investimentos de obras”, afirmou o presidente.
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, a gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para este país”, acrescentou.
Às 13h55, quando ocorreu a publicação da fala, o dólar à vista caía 4,9560 reais (-0,71%). Depois dos comentários do presidente, a moeda norte-americana virou para o positivo e renovou seguidas máximas ante o real, com investidores voltando a colocar no preço um maior risco fiscal no Brasil. Às 16h41, no pico da sessão, a divisa à vista dos EUA era cotada a 5,0210 reais (+0,60%).
Operador ouvido pela Reuters resumiu em uma palavra o efeito da fala de Lula sobre o mercado de câmbio brasileiro: “azedou”.
Por trás da alta do dólar estão os receios em torno do cumprimento da meta fiscal em 2024. O governo trabalha com uma meta de resultado primário zero para o próximo ano, embora o próprio Ministério da Fazenda venha reconhecendo as dificuldades para cumprir o objetivo.
O discurso na Fazenda — e também no Banco Central, que depende do equilíbrio fiscal para dar continuidade ao ciclo de cortes de juros — é de que, ainda que o objetivo seja difícil, o governo deve continuar a persegui-lo. Com a fala desta sexta-feira, Lula gerou um ruído no mercado.
“Ninguém do mercado tinha a ilusão de que o governo ia chegar à meta zero. Mas o esforço em direção ao zero é importante, é o que mostra no fim do dia o compromisso com o fechamento das contas”, pontuou Laís Costa, analista da Empiricus Research. “A preocupação do mercado é com a tendência. Se o presidente desaprova este esforço, isso é ruim.”
O avanço do dólar ante o real ocorreu a despeito de, no exterior, o dólar mostrar acomodação ante as divisas fortes e sinais mistos em relação às moedas de países emergentes e exportadores de commodities. O real era uma das moedas que mais sofria.
Às 17:35 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– operava estável, a 106,570.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 4.010 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de dezembro.
Fonte: Reuters