Ibovespa fecha em queda com bateria de balanços, NY e Lula sob os holofotes
O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira, marcada por uma bateria de notícias corporativas e desempenho misto em Wall Street, renovando mínimas da sessão à tarde após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a meta fiscal zero de 2024 dificilmente será alcançada.
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O desempenho só não foi pior devido ao salto das ações da Vale.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,29%, a 113.301,35 pontos. Na máxima do dia, chegou a 115.341,65 pontos. Na mínima, a 112.953,38 pontos. O volume financeiro nesta sexta-feira somou 23 bilhões.
Na semana, o Ibovespa ainda assegurou uma alta de 0,13%, mas continua na direção de um resultado negativo no mês, com declínio de 2,8% acumulado até o momento.
Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, Lula afirmou que a meta fiscal de 2024 não precisa ser zero e que o objetivo dificilmente será alcançado, já que não pretende cortar investimentos para atingi-lo, ressaltando que o mercado muitas vezes cobra o cumprimento de algo que sabe que não irá ocorrer.
“Nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque não quero fazer cortes em investimentos de obras”, afirmou.
De acordo com o superintendente da Necton/BTG Pactual, Marco Tulli, as falas do presidente repercutiram de forma negativa no mercado, uma vez que adicionam desconforto em um momento no qual o governo tem encontrado dificuldade em aprovar no Congresso medidas para aumentar a arrecadação.
“Mesmo que existam no mercado expectativas de que o déficit zero não será alcançado em 2024, não ajuda o próprio presidente afirmar isso”, acrescentou.
O economista-chefe especialista em política fiscal da Warren Rena, Felipe Salto, que está no grupo dos que não acreditam que a meta fiscal zero sejá alcançada no próximo ano, afirmou que as afirmações de Lula não alteram o seu cenário fiscal, conforme nota enviada a clientes.
“A fala de hoje não é novidade para ninguém. Apenas reforça o discurso de preservação de investimentos públicos, em linha com as diretrizes do atual governo”, afirmou, avaliando que tampouco significa que o Ministério da Fazenda tenha jogado a toalha em relação ao arcabouço fiscal.
“Nosso cenário é de cumprimento do arcabouço, com meta fiscal zero não sendo observada em 2024, mas acionando-se ambos os gatilhos no devido prazo”, acrescentou.
Ainda assim, a curva futura de juros reagiu com alta nas taxas dos contratos de DI, o que pressionou principalmente papéis de empresas de consumo e construtoras. O índice do setor de consumo na B3 fechou em queda de 3,22%, enquanto o do setor imobiliário recuou 2,54%.
Em Wall Street, o S&P 500 fechou em baixa de 0,48%, enquanto o Nasdaq subiu 0,38%, em meio a resultados corporativos e um dado de inflação bastante monitorado pelo Federal Reserve mostrando a menor alta em 12 meses em mais de dois anos, mas ainda em nível elevado.
No mercado de dívida, porém, o rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos marcava 4,8367% no final da tarde, de 4,845% na véspera, distante da máxima do dia, quando chegou a 4,892%.
Na próxima semana, as atenções estarão voltadas para o Fed, que anuncia sua decisão na quarta-feira. Apesar da expectativa de que a taxa de juros permance na faixa de 5,25% a 5,5% a ano, ainda existem dúvidas sobre os movimentos seguintes, dada a resiliência da economia norte-americana.
DESTAQUES
– VALE ON avançou 3,48%, a 67,57 reais, entre as poucas altas do dia, evitando uma perda maior do Ibovespa dada a forte participação que detém no índice. Na noite da véspera, a empresa reportou lucro líquido de 2,84 bilhões de dólares no terceiro trimestre, queda de 36% ano a ano, mas acima das previsões de analistas.
O Ebitda ajustado das operações continuadas somou 4,18 bilhões de dólares. Ao comentar o resultado nesta sexta-feira, a Vale reiterou uma visão otimista sobre a demanda do seu principal mercado para o minério de ferro, a China, enquanto ponderou que a estratégia de descarbonização da mineradora traz importante potencial para ampliar a sua base geográfica de clientes e ainda reduzir custos.
Também na quinta-feira, com o pregão ainda aberto, a mineradora anunciou proventos a acionistas da ordem de 10 bilhões de reais e um novo programa de recompra de ações. Ainda no radar, o contrato futuro de minério de ferro mais negociado na bolsa de Dalian, na China, encerrou as negociações diurnas nesta sexta-feira com alta de 2,1%.
– USIMINAS PNA valorizou-se 4,18%, a 6,23 reais, mesmo após prejuízo líquido de 166 milhões de reais no terceiro trimestre, quando também marcou o primeiro Ebitda negativo desde 2015, com resultado negativo de 20 milhões de reais, com queda na receita e vendas de aço em baixa. Analistas, em média, esperavam prejuízo líquido de 180 milhões e Ebitda negativo de cerca de 64 milhões, segundo dados da LSEG.
A equipe do Itaú BBA chamou a atenção para o fluxo de caixa no período como um fator positivo do balanço. Executivos da siderúrgica afirmaram em teleconferência com analistas que esperam condições de mercado ainda desfavoráveis para recuperação de seu desempenho no quarto trimestre.
Mas demonstraram uma visão mais positiva para 2024, citando expectativa de reativação nos próximos dias do alto-forno 3, da usina da empresa em Ipatinga (MG), paralisado desde abril para uma reforma que consumiu 2,7 bilhões de reais. No setor, CSN ON avançou 0,71% e GERDAU PN subiu 0,14%.
– HYPERA ON recuou 8,25%, a 31,37 reais, com agentes financeiros repercutindo o resultado da farmacêutica no terceiro trimestre, quando registrou lucro líquido das operações continuadas de 499,5 milhões de reais, uma alta de 6,3% ano a ano.
A receita líquida da companhia foi de 2,14 bilhões de reais, crescimento de 5%. Para 2023, a empresa disse que estima expansão de 8% na receita líquida em 2023 e com isso alcançar aproximadamente 95% da receita líquida, Ebitda e lucro líquido das operações continuadas esperados para o ano, permanecendo em linha com as projeções financeiras divulgadas em fevereiro.
– B3 ON caiu 4,52%, a 11,20 reais, corrigindo boa parte da alta acumulada na semana, que até a véspera superava 5%. Na úlima sexta-feira, os papéis da empresa de infraestrutura de mercado tocaram uma mínima intradia desde abril. Dados disponibilizados pela B3 têm mostrado queda no volume diário negociado no segmento de ações. Após superar uma média de 29,6 bilhões de reais em julho, outubro registra 22,7 bilhões de reais. Em todo o mês de setembro, marcou 22,4 bilhões de reais, após registrar 24,7 bilhões em agosto e 24 bilhões em julho.
– PETROBRAS PN recuou 0,73%, a 35,44 reais, revertendo a alta dos primeiros negócios, em dia marcado pela repercussão de dados operacionais da companhia no terceiro trimestre conhecidos após o fechamento da bolsa na véspera, com alta de 9,6% na produção de petróleo no Brasil.
A Petrobras também disse na quinta-feira que uma câmara integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) acolheu recurso da Fazenda Nacional, tornando definitivo no âmbito administrativo um débito fiscal de 762 milhões de reais da estatal. No exterior, os preços do petróleo tiveram uma sessão positiva, com o barril de Brent fechando em alta de 2,9%.
– ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,48%, a 27,30 reais, BRADESCO PN caiu 1,03%, a 14,35 reais, pressionados pela piora do sentimento no pregão brasileiro.
Fonte: Reuters